É ensurdecedora a onda de choque provocada pela leitura do acórdão, mas nunca tão ensurdecedor como o silêncio que ano após anos, e não só na casa Pia, este tipo de crimes foi alvo. Por vergonha. Por medo. Até por uma certa cultura de permissividade face a este tipo de actos, que em surdina durante gerações eram quaseencarados como uma infeliz (a)normalidade.
O grande Silêncio acabou.
Quero acreditar que quase 2 anos de investigação, mais 6 de julgamento são capazes de produzir substancia suficiente para as condenações anunciadas.
Por parte dos condenados há a indignação, que por vezes me parece mais por terem sido apenas eles, e não tantos outros os condenados. O próprio Carlos Cruz, numa das suas intervenções de indignação deixa escapar que se espanta por terem chegado a estar 18 pessoas envolvidas no caso da casa de Elvas e no fim só ficar ele.
É absurdo o tempo de antena que se dá a Carlos Cruz, comunicador profissional toda a sua vida. Quero antes confiar na investigação, nos vários profissionais de justiça envolvidos durante 8 anos neste processo. Por mais emotivas e convictas que possam ser as declarações de Carlos Cruz, não consigo esquecer as suas fabulosas performances em programas como o "1, 2, 3" em que num fantástico jogo psicológico manipulava concorrentes e audiência num jogo de ilusões.
Não se tratou de um julgamento sumário, mas sim 6 anos de trabalho, não com um profissional que se pode enganar, mas sim vários, sucessivos, contínuos. Só lamento os culpados que ficaram de fora, por um ou outro motivo.
Mas a grande vitória, foi a de romper o grande silêncio, das vitimas de ontem e as de amanhã, que sabem que este tipo de crimes não é normal, e não pode ficar impune.
A grande vitória, é a de tornar as noites menos tranquilas aos abusadores que impunemente cometiam este tipo de crimes.