sexta-feira, 27 de junho de 2008

SOCIEDADE - ANJOS E DEMÓNIOS

A propósito da noticia do afundamento do ferry boat nas Filipinas, em que morreram cerca de 800 pessoas, e a agravar a desgraça, veio agora a saber-se que o barco transportava, de forma ilegal, 10 toneladas de um pesticida de elevada toxicidade, letal para o Homem.

Vox Pop: O responsável por este acto é um criminoso, irresponsável e que tem que ser condenado pelo crime cometido. Outros dirão: é a miséria inerente a um país do terceiro mundo, em que os equipamentos se degradam, sem manutenção, chegando a um ponto em que não existem condições de operação.

O Feiticeiro propõe outro olhar: A questão não se centra sobre um responsável (ou dois, ou três), ou sobre as condições dos equipamentos ou infra-estruturas. É tão somente uma questão de atenção, de consciência e responsabilidade individual. Temos a tendência em procurar Super-heróis ou anti-heróis, que nos salvam ou condenam respectivamente. Barak Obama será o salvador dos Estados Unidos, o homem providência que restaurará o orgulho e a glória de ser americano. Adolf Hitler foi o diabo na Terra, príncipe das trevas, responsável pelo maior horror da história da Humanidade. O Homem (na sua maioria)é eminentemente religioso (mesmo quando se diz ateu), no sentido em que procura a sacralização do que é terreno, a materialização num Pai do bem e do mal.

Não é Barak Obama que salvará a América. O máximo que poderá fazer (e já será muito) é o de inspirar a esperança em cada um. Bem como não foi Hitler o demónio na terra, mas sim cada um dos que acreditaram no horror, que o executaram diariamente, sem se questionar.

Os anjos e demónios vivem dentro de cada um de nós, todos os dias, a cada segundo que vivemos. E somos o Herói sempre que conseguimos colocar em cada gesto um pouco de Humanidade, de consciência, de responsabilidade individual. E somos o vilão, sempre que fechamos os olhos, que somos cobardes, sempre que, desatentos vivemos de forma irresponsável cada atitude que tomamos (ou deixamos de tomar).

Porque a diferença faz-se nas pequenas coisas: na educação com que eu agradecemos um serviço prestado, no obrigado que dizemos a quem nos segura a porta, na cordialidade quando estamos no trânsito. E também na atitude responsável com que trabalhamos, evitando “não vale a pena estar a chatear-me com isto, pois só me vai dar trabalho”. Ou quando tomamos a decisão de não embarcar 10 toneladas de pesticidas num barco de passageiros. Ou quando decidimos não autorizar o embarque de 10 toneladas de pesticidas num barco de passageiros. Ou quando não autorizamos um barco de passageiros a fazer viagem quando as condições atmosféricas não o permitem.

Somos o herói sempre que pensamos antes de agir que tudo é causa e consequência. E que o bater de asas de uma borboleta em Tóquio pode provocar uma tempestade em Nova Iorque.

terça-feira, 24 de junho de 2008

INTERNACIONAL - “Ahmadinejad considera "falsa e artificial" a subida do preço dos combustíveis”

Esta declaração do presidente Iraniano, no presente momento de conturbação no mercado de combustíveis, dilui-se no mar de noticias e declarações sobre esta matéria. No entanto, ela representa um sinal preocupante sobre os próximos passos do radicalismo islâmico no Ocidente.

Perante a actual crise, surgem vários sinais indiciando o que pode ser considerado como um movimento de entrincheiramento de alguns blocos regionais. As autoridades de Hong Kong vieram manifestar o seu interesse em criar um mercado de futuros de Petróleo, para que “não tenham que pagar o preço da especulação de preços” nas praças europeias e norte americanas. O presidente da Venezuela Hugo Chavez, veio hoje defender uma união de esforços entre a América Latina e África para concertar posições usando o petróleo como arma de resposta às leis de repatriamento que avançam na União Europeia. O cenário está montado. Numa Europa energeticamente dependente do petróleo, a tendência é para um cada vez maior isolamento. Quando falta o pão na mesa todos gritam e ninguém tem razão. E os donos do “pão” querem cada vez mais salvaguardar-se. Nesta Europa, que insiste em tropeçar em referendos que travam a criação de soluções que a tornem num bloco mundial forte , não se auguram bons ventos. O equilíbrio desta sociedade baseada em energia do petróleo está mais frágil que nunca. Mais frágil do que em 10 de Setembro de 2001, e já na altura havia quem sussurrasse que nem tudo ia bem no reino do Ocidente. E se na altura apenas um punhado de radicais de esquerda esboçaram um breve sorriso pela queda das torres gémeas, como se aqueles atentados não fossem mais do que um grito de revolta sobre a “nova ordem mundial” imposta pelo ocidente, hoje haveriam outras vozes a bradar. Já hoje as declarações de Ahmadinejad são elas próprias eco de uma insatisfação crescente no seio da civilização do ocidente. Uma insatisfação que grita contra os seus próprios governos, não percebendo que o tempo é o de cerrar fileiras, e não de nos dividirmos. Uma insatisfação que leva a que 825.000 rejeitem um tratado que põe em causa a construção de uma comunidade coesa de cerca de 400.000.000 de Europeus. Uma insatisfação, que como um vírus, ameaça corroer e destruir o nosso modo de vida tal como o conhecemos hoje. Os radicais percebem isto. E receio bem que estejam apenas à espera do momento certo para o golpe certeiro, que está cada vez mais perto.