A discussão publica actual voltou novamente a centra-se
sobre a questão dos reformados, alimentando o mito do cisma grisalho, que a
aplicação de uma suposta taxa sobre reformas (chame-se taxa, Contribuição
solidária, corte de despesa, ajustamento, seja qual for a semântica e por uma
questão de clareza irei chamar-lhe taxa)
Na realidade, esta (falsa) questão resume-se a um valor total
para o Estado que representa menos de 500 milhões de Euros (o valor da
Contribuição Extraordinária de Solidariedade – CES - inscrita em OE 2013 é de 421M€,
300 da CGA e 121M€ do Orçamento da Segurança Social).
A medida sugerida pelo primeiro-ministro, como taxa de
sustentabilidade das pensões, visava criar um mecanismo permanente que substituísse
o CES na mesma medida de poupança (uma vez que o CES tem carácter excepcional e
temporário).
Ora se assim for, esta taxa sobre pensões, irá atingir
apenas menos de 10% dos pensionistas, aqueles que tem rendimento superiores a
1350€, ou seja protegendo fortemente aqueles que menos ganham. De facto, em
2012, por escalões de rendimento, o numero de pensionistas por velhice,
invalidez e aposentados da CGA tem a seguinte distribuição:
Posto isto, como pode afirmar-se que esta medida alimenta um
cisma grisalho, quando 90% dos pensionistas não são por ela abrangidos? Quando cerca
de 2/3 dos pensionistas ganham menos de 500€?
O que está afinal em causa quando se combate na praça
publica esta medida? Todo este movimento de histerismo de comentadores políticos
(que se estende ao presidente da republica) não será antes uma reacção de
autodefesa das elites de reformas douradas que de forma corporativa defendem os
seus próprios interesses particulares, em nome dos interesses genéricos dos
reformados (Manuela Ferreira Leite, Bagão Felix, Cavaco Silva, apenas para
nomear alguns)?
A defesa dos reformados mais desprotegidos é feita noutros
campos nomeadamente por medidas como as que tem sido tomadas na área do
medicamento, em que a redução do preço dos mesmos tem sido uma realidade.
Não existe cisma grisalho, ou ataque a pensionistas. Existe sim,
um combate politico partidário que não tem ética de respeito pelos interesses
do País, e que de forma desonesta manipula os pensionistas (que representam 1/3
da população) de forma a atingir os seus objectivos. Todo este combate é feito
com a ajuda de uma linha da frente de comentadores políticos, eles próprios fazendo
a defesa dos seus interesses pessoais enquanto pensionistas dourados, ilegitimamente
apresentando-se como arautos da defesa dos pensionistas. Essa mesma elite que
contribuiu para que o País chegasse ao estado em que está. Os limites da
dignidade não está em taxar pensões acima de 1350€. Está antes na miséria da
rua, daqueles que não tem voz nos estúdios de televisão como comentadores políticos.
Essa miséria a que nos conduziram as ultimas décadas de poder em Portugal, onde
se gastou o que se não tinha, e agora resta-nos a conta para pagar.