quarta-feira, 15 de maio de 2013

O mito do cisma grisalho - Ou as elites reformadas que não querem pagar a crise que ajudaram a criar


A discussão publica actual voltou novamente a centra-se sobre a questão dos reformados, alimentando o mito do cisma grisalho, que a aplicação de uma suposta taxa sobre reformas (chame-se taxa, Contribuição solidária, corte de despesa, ajustamento, seja qual for a semântica e por uma questão de clareza irei chamar-lhe taxa)
Na realidade, esta (falsa) questão resume-se a um valor total para o Estado que representa menos de 500 milhões de Euros (o valor da Contribuição Extraordinária de Solidariedade – CES - inscrita em OE 2013 é de 421M€, 300 da CGA e 121M€ do Orçamento da Segurança Social).
A medida sugerida pelo primeiro-ministro, como taxa de sustentabilidade das pensões, visava criar um mecanismo permanente que substituísse o CES na mesma medida de poupança (uma vez que o CES tem carácter excepcional e temporário).
Ora se assim for, esta taxa sobre pensões, irá atingir apenas menos de 10% dos pensionistas, aqueles que tem rendimento superiores a 1350€, ou seja protegendo fortemente aqueles que menos ganham. De facto, em 2012, por escalões de rendimento, o numero de pensionistas por velhice, invalidez e aposentados da CGA tem a seguinte distribuição:










Posto isto, como pode afirmar-se que esta medida alimenta um cisma grisalho, quando 90% dos pensionistas não são por ela abrangidos? Quando cerca de 2/3 dos pensionistas ganham menos de 500€?
O que está afinal em causa quando se combate na praça publica esta medida? Todo este movimento de histerismo de comentadores políticos (que se estende ao presidente da republica) não será antes uma reacção de autodefesa das elites de reformas douradas que de forma corporativa defendem os seus próprios interesses particulares, em nome dos interesses genéricos dos reformados (Manuela Ferreira Leite, Bagão Felix, Cavaco Silva, apenas para nomear alguns)?
A defesa dos reformados mais desprotegidos é feita noutros campos nomeadamente por medidas como as que tem sido tomadas na área do medicamento, em que a redução do preço dos mesmos tem sido uma realidade.
Não existe cisma grisalho, ou ataque a pensionistas. Existe sim, um combate politico partidário que não tem ética de respeito pelos interesses do País, e que de forma desonesta manipula os pensionistas (que representam 1/3 da população) de forma a atingir os seus objectivos. Todo este combate é feito com a ajuda de uma linha da frente de comentadores políticos, eles próprios fazendo a defesa dos seus interesses pessoais enquanto pensionistas dourados, ilegitimamente apresentando-se como arautos da defesa dos pensionistas. Essa mesma elite que contribuiu para que o País chegasse ao estado em que está. Os limites da dignidade não está em taxar pensões acima de 1350€. Está antes na miséria da rua, daqueles que não tem voz nos estúdios de televisão como comentadores políticos. Essa miséria a que nos conduziram as ultimas décadas de poder em Portugal, onde se gastou o que se não tinha, e agora resta-nos a conta para pagar.