quinta-feira, 4 de julho de 2013

Verão Quente

A novela politica que vivemos por estes dias é lamentável, não tanto pela sua gênese, mas pela inabilidade em gerir os acontecimentos que lhe seguiram.
Vitor Gaspar merecia melhor consideração pela espinhosa missão que teve que executar, mas a história a seu tempo lhe fará justiça. Gaspar tem a elevação que tem faltado a tantos outros atores políticos em palco, ou à espera de nele entrar. Soube identificar a hora em que passaria a ser mais útil saindo do que ficando. Fe-lo ainda em honrado exercício de autocritica. E em sublime lucidez, tomou a decisão que melhor servia o pais. Uma importante parte do ajustamento foi feito, com elevados custos para todos nós (por exemplo, o desiquilíbrio externo e as reformas na saúde). Mas muito ainda fica por fazer.
A sua saída abria uma janela de oportunidade para relançar a 2ª fase do processo de ajustamento, permitindo à coligação a renovação do seu discurso de forma descomprometida.
Passos Coelho não mediu bem a dimensão politica da escolha que fez para suceder a Gaspar. Se internacionalmente, foi a melhor escolha, pela competência e conhecimento dos dossiers que herdava, politicamente não foi uma escolha imaculada (injustificadamente, talvez, mas em politica não basta ser, é preciso parecer).
A posição de Paulo Portas demitindo-se no dia da tomada de posse da ministra e dos secretários de Estado ( um deles do seu partido, escolhido por si), revela o seu pior carácter.
O que se sucede causa danos praticamente irreparáveis, na credibilidade que tanto esforço custou aos Portugueses. Creio que, pela sequência de acontecimentos, não seria sua intenção deixar cair (para já) o governo, apenas ficar de fora para o ir queimando em lume brando.
Passos começou a jogar xadrez, e a sua comunicação, não é mais do que querer deixar bem claro que, se uma crise politica se abrisse, não seria por sua causa.
Desastre consumado, creio que, mesmo sendo um cenário trágico, a ida a eleições é a unica alternativa. Era a última coisa que precisávamos neste momento, quando dávamos passos de passagem à fase de crescimento (e alguns sinais já surgiam), era uma crise com eleições. Mas, helas, o mal está feito. E se já era provável que fossemos necessitar de algum tipo de programa de ajustamento que nos permitisse o acesso a financiamento pós troika, por via dos mecanismos Europeus, agora, torna-se evidente que tal será necessário. Assim, será desejável que seja um novo governo a negociar esse programa, para que não venha daqui a um ano ou dois justificar-se dizendo que não foi ele que negociou as medidas, e que é preciso renegociar, e ...novamente o mesmo filme de sempre.... é que ganhe quem ganhe, a margem de manobra para poder escolher as politicas a executar é praticamente nula.
A unica solução credível alternativa às eleições, seria manter Portas no governo comprometendo-o com a solução, e tentando inibi-lo da sua estratégia de  franco atirador ao que restar do governo nas bancadas do parlamento seja por palavras, seja por omissões ou silêncios.
tal como Henrique Monteiro escrevia no Expresso por estes dias, Paulo Portas faz lembrar uma personagem da celebre fabula da tartaruga e do escorpião.
No meio disto, temos um pais novamente adiado, cansado, abandonado pelos seus melhores, e onde já nem para a indignação parece haver forças.

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