A propósito da noticia do afundamento do ferry boat nas Filipinas, em que morreram cerca de 800 pessoas, e a agravar a desgraça, veio agora a saber-se que o barco transportava, de forma ilegal, 10 toneladas de um pesticida de elevada toxicidade, letal para o Homem.
Vox Pop: O responsável por este acto é um criminoso, irresponsável e que tem que ser condenado pelo crime cometido. Outros dirão: é a miséria inerente a um país do terceiro mundo, em que os equipamentos se degradam, sem manutenção, chegando a um ponto em que não existem condições de operação.
O Feiticeiro propõe outro olhar: A questão não se centra sobre um responsável (ou dois, ou três), ou sobre as condições dos equipamentos ou infra-estruturas. É tão somente uma questão de atenção, de consciência e responsabilidade individual. Temos a tendência em procurar Super-heróis ou anti-heróis, que nos salvam ou condenam respectivamente. Barak Obama será o salvador dos Estados Unidos, o homem providência que restaurará o orgulho e a glória de ser americano. Adolf Hitler foi o diabo na Terra, príncipe das trevas, responsável pelo maior horror da história da Humanidade. O Homem (na sua maioria)é eminentemente religioso (mesmo quando se diz ateu), no sentido em que procura a sacralização do que é terreno, a materialização num Pai do bem e do mal.
Não é Barak Obama que salvará a América. O máximo que poderá fazer (e já será muito) é o de inspirar a esperança em cada um. Bem como não foi Hitler o demónio na terra, mas sim cada um dos que acreditaram no horror, que o executaram diariamente, sem se questionar.
Os anjos e demónios vivem dentro de cada um de nós, todos os dias, a cada segundo que vivemos. E somos o Herói sempre que conseguimos colocar em cada gesto um pouco de Humanidade, de consciência, de responsabilidade individual. E somos o vilão, sempre que fechamos os olhos, que somos cobardes, sempre que, desatentos vivemos de forma irresponsável cada atitude que tomamos (ou deixamos de tomar).
Porque a diferença faz-se nas pequenas coisas: na educação com que eu agradecemos um serviço prestado, no obrigado que dizemos a quem nos segura a porta, na cordialidade quando estamos no trânsito. E também na atitude responsável com que trabalhamos, evitando “não vale a pena estar a chatear-me com isto, pois só me vai dar trabalho”. Ou quando tomamos a decisão de não embarcar 10 toneladas de pesticidas num barco de passageiros. Ou quando decidimos não autorizar o embarque de 10 toneladas de pesticidas num barco de passageiros. Ou quando não autorizamos um barco de passageiros a fazer viagem quando as condições atmosféricas não o permitem.
Somos o herói sempre que pensamos antes de agir que tudo é causa e consequência. E que o bater de asas de uma borboleta em Tóquio pode provocar uma tempestade em Nova Iorque.
Um comentário:
Meu caro Quaresma,
Conhecer-te tem sido muito interessante, devo dizer-te. È muito raro as pessoas rirem-se delas próprias e tu tens essa capacidade!
Tens de é ser mais assíduo na tua escrita, pois é um dom que poucas pessoas têm. E mais: não é só a forma que é interessante, mas sobretudo o conteúdo.
Espero poder continuar a ler e ouvir a tua versão do Mundo e da Vida.
Grande Abraço.
GMS
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