quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Ainda a crise

Uma vez que não se fala em mais nada senão sobre a crise, quero ainda acrescentar duas considerações sobre a dita besta.
Ao que parece a crise serve de pretexto para tudo, de nacionalizações a aumento de deficit, do  regresso do Estado que tudo controla e da carta branca ao despesismo, sempre em nome da defesa da Economia.
Continuo a acreditar que os remédios, são de facto o pior remédio, pois servem apenas para tratar sintomas, e não tratar as causas. As medidas paliativas inauguradas no OE e que se vão suceder nas próximas semanas e meses servem apenas para que se prolongue a agonia do doente, que vendo os sintomas da crise aliviar, acha que pode continuar a gastar o que não tem como fez nas ultimas décadas. A origem do mal está no consumo desenfreado generalizado, das famílias ao Estado, na incompreensão do facto que os recursos são de facto escassos e limitados, e na ilusão de que podemos crescer indefinidamente a ritmos infinitamente crescentes. Esta é a verdadeira raiz do problema da Economia Real (gosto do termo, pois serve para nos relembrar que existe uma economia irreal, e é sobre essa que infelizmente cada vez mais vivemos).
Outro fenómeno que ressalta desta crise, é o facto de todos quererem achar um culpado: Ora  o culpado é o Estado que não regulou, ora são os Capitalistas que não avaliaram bem o risco, os analistas, os supervisores, ... Até os 4 cavaleiros, perdão banqueiros, do Apocalipse vem à televisão dizer que "alguém vai ter que dar explicações ao Mundo sobre o sucedido". Tristes episódios fazem-me lembrar mais um ditado "quando não há pão em casa todos gritam e ninguém tem razão". A culpa desta crise é de todos nós que caímos na armadilha e na vertigem da ambição cega, de consumir além das nossas possibilidades. E no final, se a culpa é de todos, quem a vai pagar é o mesmo do costume.
Para uma explicação da crise não é preciso nenhum guru de Economia. Atentem à letra da música de Chico Buarque, "O Malandro":

O malandro/Na dureza
Senta à mesa/Do café
Bebe um gole/De cachaça
Acha graça/E dá no pé

O
garçom/No prejuízo
Sem sorriso/Sem freguês
De passagem/Pela caixa
Dá uma baixa/No português

O galego/Acha estranho
Que o seu ganho/Tá um horror
Pega o lápis/Soma os canos
Passa os danos/Pro distribuidor

Mas o frete/Vê que ao todo
Há engodo/Nos papéis
E pra cima/Do alambique
Dá um
trambique/De cem mil réis

O usineiro/Nessa luta
Grita(ponte que partiu)
Não é idiota/Trunca a nota
Lesa o Banco/Do Brasil

Nosso banco/Tá cotado
'Tá cotado
No mercado/Exterior
Então taxa/A cachaça
A um preço/Assustador

Mas os ianques/Com seus tanques
Têm bem mais o/Que fazer
E proíbem/Os soldados
Aliados/De beber

A cachaça/Tá parada
Rejeitada/No barril
O alambique/Tem
chilique
Contra o Banco/Do Brasil

O usineiro/
Faz barulho
Com orgulho/De produtor
Mas a sua/Raiva cega
Descarrega/No carregador

Este chega/Pro galego
Nega
arrego/Cobra mais
A cachaça/Tá de graça
Mas o frete/Como é que faz?

O galego/Tá apertado
Pro seu lado/Não tá bom
Então deixa/Congelada
A mesada/Do
garçom

O
garçom vê/Um malandro
Sai gritando/Pega ladrão
E o malandro/
Autuado
É julgado e condenado culpado
Pela situação


E assim dizia a voz do Feiticeiro.

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